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Costureira de sonhos

| segunda-feira, 11 de outubro de 2010 | 2 comentários |

Ela não sentia dor, não enquanto seus dedos eram picados pelas agulhas das roupas que tecia, ela fazia roupas de sonhos, que eram doadas aos seus inimigos.
Mas ela sorria por que não podia chorar, ela não tinha lágrimas mesmo que quisesse que elas descessem. Uma vez, quando pequena, ela encheu a mão de água e pingou nos olhos para fingir que chorava.
- Não seja idiota... Não são lágrimas, só são água.
As pessoas diziam sem parar o quanto ela era tola, por que ela achava que tudo era simples, costurando um sonho no outro, sempre achando que eles nunca iriam acabar. Ela continua a insistir que as nuvens eram de algodão.
Ela ainda pensava que dormir com a perna encolhida impedia que o bicho papão não a pegaria pelos pés da cama.
- É ridículo, não existe. – ela ria e fala em bom som.
Mas todas as noites ela encolhia as pernas ao máximo junto do corpo para impedir os planos do bicho papão.
Todos os dias, ela levantava cantando, todos os desejos que queria e todos os sonhos que havia tido para não esquecê-los nunca.
Dor... Ela queria saber como era a dor, e jurava que iria achar bom senti-la, e todas as pessoas, mesmo se ela não pedissem, tentavam ajudar... Demonstravam o que poderia causar dor.
Ela desistiu dos sentimentos, os trancou no guardarroupa, ao lado dos seus esqueletos do armário. Ela escreveu várias vezes no caderno, “eu sou forte”. Por que era fraca.
Escreva uma coisa várias vezes e ela se torna verdade, minta para vários e a mentira vira verdade, esse era o segredo, e ela sabia...
Escreveu diversas vezes que era feliz, que sonhava, chorava e sorria como qualquer ser humano.
Ela não é humana, ela apenas é uma costureira de sonhos... Ela escreve o passado, o presente e o futuro, não lhe foi dado o direito de ser humano.
Mas... Enquanto não costura os sonhos, ela escreve e desenha, toda a felicidade que sonha ter um dia... Isso a faz sentir viva.