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Relógio do fim dos dias

| quinta-feira, 31 de março de 2011 | 0 comentários |
Os dedos são armas das palavras da boca, os pensamentos guardam tudo aquilo que não se pode falar. Nenhum ser humano diz o que realmente pensa, e o mundo continua a girar, mesmo que algumas pessoas rastejem de dor tentando alcançar o mundo, ele não para nunca, ninguém ajuda. O interior preenche a casca, é melhor ignorar o que não se vê.

Ela conta as horas no relógio, o relógio da vida, dizendo que ela vai morrer, aproveitando cada hora como se fosse a única, querendo passar alguma mensagem ao mundo, querendo que as pessoas valorizem mais... Cada tic tac do relógio que doí a alma, cada segundo que se passa, como se fosse o último. Ainda sonha, e sente gostos na memória, o paladar se foi como a visão do mundo, ela não suporta mais ouvir.

O pior não é o gosto por ver os mesmos quadros, é a náusea causada pelo convívio social, onde cada pessoa é o centro do próprio mundo e dona de uma verdade absoluta. Ela continua contando no relógio... Cada movimento do ponteiro, cada monotonia de de ação, cada tédio da vida.

Ela conta duas vezes uma hora, conta mais de mil a terceira, como se nada mais importasse, como se ela não ligasse para o descaso dos que dizem que a ama, como se ela não tivessem iguais a ela, como se ninguém mais sofresse. Ela queria ser surda, por que as palavras das outras pessoas a incomodavam, ela só sentia-se sufocar com as palavras dos outros.

Sua voz era calada, sem falas e sem gestos, ela nunca dizia nada, não reclamava de nada, nem quando doía, e nem o quanto doía. Mas ela ainda continuaria contando no relógio... Os dias para a sua morte, sempre... Como todos os dias.