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O Voar da Borboleta

| sexta-feira, 2 de setembro de 2011 | 0 comentários |


Quero ser o louco que grita e diz o que quer...
Quero chorar na frente de todos sem que me questionem...
Não posso obrigar... Mas posso chorar no escuro do quarto

Quero dançar quando ninguém estiver olhando...
Quero lamentar minhas dores e meus anseios frágeis...
Mas não posso obrigar que seque minhas lagrimas...

Eu não posso morrer... Não posso me calar sobre o que sinto...
Não posso dizer o quanto desprezo a forma de mundo encaixada nas pessoas...
Sempre tenho que dizer e nunca posso ouvir...

Eu não tenho opinião... Sou um espelho que nada sente e que tudo se refle...
Os meus direitos não são dos outros... Eu sou aquele que é questionado e nunca questiona...
Eu vou calar a dor no meu coração, eu posso afoga-la com as minhas lágrimas, posso fingir que elas nunca existiram...

Pergunte-me onde dói... Pergunte-me por que estou triste, me traga um lenço para que eu chore...
Meu silêncio é uma forma, de sufocar minhas tristezas um meio que estava dando certo... Um meio que mudou apenas do meu lado e que retorna aos poucos.
Não faz sentido...
Não faz sentido algum...
A borboleta que se joga na chama da vela e morre aos poucos em seu último voo brilhante.

O Mago das Ilusões e o Palhaço em: Espaço

| terça-feira, 7 de junho de 2011 | 1 comentários |

O Mago das Ilusões, esse mesmo o seu nome, e não havia como descreve-lo, porque ele não tem um rosto e nem uma forma, ele é apenas uma sombra de todas as ilusões perdidas do mundo. Quem nunca teve uma ilusão e depois a jogou fora? E ele caminhava procurando o Palhaço que estava em algum lugar desconhecido.

O Palhaço se lembrava, que o Mago das Ilusões era seu esqueleto no armário, apenas ele via o Mago, apenas ele ouvia o Mago. E o inverso era o que acontecia. O mundo não precisava mais dos dois, então eles deixaram de existir para o resto, existindo apenas um para o outro.

- O que diabos está fazendo? – interrogou o Mago, ele estava parado com as mãos na cintura enquanto olhava a cena.

Nesta cena o Palhaço traçava um circulo de giz branco no chão. Era um circulo de uns 3 metros de diâmetro. Ele fazia bem devagar e não deixava entortar nem um pouco, sempre apagando quando errava e saia torto. Ele não respondeu ao Mago, e quando terminou deu aquele seu sorriso bem bobo.

- Prontinho essa é a minha bolha proxêmica. Ela não ficou bonitinha? – o palhaço respondeu.

Quando ele terminou de responder começou a andar em torno da bolha, feliz da vida, como se tivesse acabado de criar alguma coisa importante. O Mago, por outro lado, estava tentando ao máximo não morrer de rir.

- Uma bolha proxêmica? Você desenhou uma bolha proxêmica? Essa é sem dúvida a coisa mais idiota que você já fez. Você não serve para raciocinar, deixa que eu faço isso para você da próxima vez. – o Mago ainda ria, enquanto suas palavras era seguidas por pausas longas, ele parou de rir quando terminou de falar.

- Você está é com inveja por que a sua bolha proxêmica é imaginaria e ninguém respeita, as pessoas sempre estão invadindo o seu espaço, agora comigo vai ser diferente.

O Mago andou em torno da bolha proxêmica do amigo, ele olhou para o desenho bem feitinho no chão, e quase riu de novo, logo ele saltou para dentro ficando do lado do outro. O Palhaço curvou as sobrancelhas, olhou para fora do circulo e depois para dentro, repetindo o gesto mais três vezes antes de começar a chorar.

- Você... Você invadiu... Minha bolha! – ele ainda chorava esfregando as mãos nos olhos.

- Sua anta, a bolha proxêmica é imaginária! – o Mago gritou sacudindo o outro pelos ombros. – Todo mundo vai invadir, as pessoas nem olham para o chão. Você nem sabe o que é uma bolha proxêmica.

- O... O que... É? Então? – o Palhaço ainda soluçava.

- Uma bolha proxêmica é aquele espaço que as pessoas dão uma das outras para não ficarem grudadas, é o chamado espaço educado. Entendeu agora? Essa linha no chão, não é uma Bolha Proxêmica, é apenas um circulo feito de giz.

- Ah... Então talvez seria melhor fazer ela como uma parede de plástico né? Ou algo de ferro que dê choque... Eu preciso de ferro e eletricidade. Me ajuda? – pediu o Palhaço.

O Mago bateu com as mãos no rosto e começou a contar até dez. Ele soltou o Palhaço, e saiu andando para fora do circulo, enquanto o Palhaço começava a segui-lo. 

- Vai me ajudar? – repetiu o Palhaço.

- Eu desisto de você, enfie o dedo na tomada e morra de uma vez. – Mago gritou.

- Mas e ai quem vai conversar com você... Eu te amo Mago. – disse o Palhaço abraçando o Mago.

- Ei... Sai fora, bolha proxêmica, lembra? Desencosta... Desgruda...

- Vamos dividir uma bolha proxêmica?

- Falar com  você é como falar com a parede...

- Vamos vai? Vamos... Diz que sim? – disse o Palhaço insistindo.

E assim os dois continuaram aquela discussão, chegando a conclusão, que talvez a bolha proxêmica seja apenas mais um risco no chão.


O motivo do silêncio

| quinta-feira, 12 de maio de 2011 | 0 comentários |
Um dia disseram que aquela garotinha era muda por que queria, por que não tinha nada para dizer. Será que pode alguém nunca ter nada para dizer? Pois deixo escrito e datado em sangue e lágrimas, todos tem algo para dizer, mesmo os que não podem... Mesmo os que não querem.

São estes impedidos pela dor em sua alma e a falta de confiança no mundo, cuja a dor de falar é muito maior do que a dor de ficar em silêncio. Pode o coração aguentar quanto sofrimento? Ela se calou por que impediram-na de falar, quando não quiseram ouvi-la. Um senhor da esquina sempre diz, quando o assunto é tocado com ele ou perto dele, ele faz uma voz baixinha, como um sussurro e diz: Sabe o que dizem... Meus velhos pais? Que nem todo mundo foi feito de material forte, nem todo mundo repete o que disse e nem todo mundo volta atrás, palavras são como ouro de tolo, que ninguém dá valor certo."

E o velhinho estava certo, para morrer nem sempre é preciso que o corpo deixe de funcionar, o da garotinha funcionava, mas ela não vivia, ela não acreditava mais nos outros e não contava mais histórias de seus sonhos, ela ainda sonhava, ainda tinha muitas coisas que ela queria dizer, só que o medo a impedia, o medo calava suas palavras e não deixava que nada saísse, como se seus pensamentos e sentimentos mais puros, fossem preciosos demais para serem jogados na lama por quem os recebe.

"Não direi mais nada", ela pensava, que as pessoas  morram ignorantes achando que tudo o que pensam é verdade, pensando que cada sacrifico não vale a pena, e que traços de personalidade nunca serão mudados... Seria assim um mundo tão egoísta? Sim... Era nisso que ela pensava, por que ela sabia, que mais do que o que as pessoas diziam, o que faziam era colocado primeiro.

Viver por um amor

| segunda-feira, 9 de maio de 2011 | 0 comentários |
Diga-me amor com temperança
De que me vale a esperança
De que me vale o sonho partido na amargura
E todo aquele peso que o meu coração atura?

Amargas lágrimas por um sorriso seu
Que alivia toda a dor do que não é meu
Que acalma o meu coração ferido
E que faz do ódio um sentimento partido

Aqui estou eu, boêmio vagabundo
Dizendo que te ama ao mundo
E que por esse amor viver, morrer e eternamente viver
Por esse amor todo dia renascer

Eu sofri, sei que sofri, mas tu me salva todo momento
Poderei existir por esse sentimento
Que se faz grandioso e acaricia todo o meu ser
Que faz não ser tão doloroso morrer

Eu morreria em seus braços
Me derretendo de felicidade e dormência em seus braços
Lembrando de cada segundo que me trouxe alegria
E esquecendo a cada momento que eu me feria
Tentando acreditar que o amor não mais existia

Lírios - Van Gogh



Carta do Desespero

| sexta-feira, 22 de abril de 2011 | 1 comentários |
Deixe em carta datada e marcada que um dia eu acreditei que todos os sentimentos existiriam sempre e que promessas seriam cumpridas. Elas nunca são.
Acreditei um dia que a vida iria me mostrar algo útil, que eu não temeria a morte ou o esquecimento, que não temeria ter apenas a companhia da solidão.
Que um dia a pessoa que me disse que se eu nunca fizesse aos outros o que não gostaria que fizessem comigo, que o que eu não gostaria que acontecesse comigo, não aconteceria de novo... E de novo.
Eu quis acreditar com todas as forças que tudo o que faço pelos outros, que outros fariam por mim, não é assim. Nunca foi, as pessoas não se doam tanto quanto eu.
Às vezes deixo de acreditar na amizade, outras vezes quando outros se mostram cruéis e tão egocêntricos que não enxergam a própria crueldade.
Mas eu percebi a tempo, que a dor maior não é pelo ferimento, mas pela falta de um colo para chorar, mesmo daqueles que sempre dei colo.
Mas eu amei... Eu amo, isso mantém a vida presa em mim.
Mas não falo de amor de amante nessa carta... Falo de amor de amizade, que nem sempre tem compaixão.
Gostaria de poder dizer ao mundo, que cuidassem melhor de seus amigos, como se fossem mesmo irmãos escolhidos, e não alguém por quem se tem interesses, por quem se recebe e nada se dá.
Mas aprendi a lição, aprendi que quando chega aqueles momentos... Os momentos onde a solidão e a dor são só minhas, e que ninguém aparece para estender a mão, que nesses momentos... Só tenho a minha companhia e o meu colo. Ainda posso me abraçar.


O mundo não é meu mundo

| quinta-feira, 14 de abril de 2011 | 1 comentários |
Depois de muito refletir decidi fazer esse post, ele é um desabafo, uma conversa com o leitor, ou como quiserem chamar, eu decidi que vou colocar meu pensamento em relação ao mundo lá fora. Recebi um comentário do post anterior, e como eu não sei colocar formas para responder comentários por aqui mesmo, quem quiser perguntar alguma coisa fique a vontade para mandar um e-mail (mello_chokolade@yahoo.com.br). Eu gosto de conversas longas e inteligentes.

Me perguntaram se aquele post era um relato sobre fobia social, eu diria que é um pouco daquilo sim... É uma das facetas que poderia ter a fobia social. Na verdade eu tinha acabado de me dar conta que tenho fobia social naquele post. Eu tinha feito o teste e havia parado para pensar. Sempre adorei filosofia, e acho que as pessoas, ao menos a maioria delas, não valoriza a capacidade de pensar e seguem a massa. Muitas pessoas podem discordar de mim nisso. Mas filosofia, a arte de pensar, foi abandonada e é vista só como material de estudo passado.

Por que eu cheguei nesse assunto depois de falar de fobia social? Bem, foi um super hiper link. Para dizer que eu pensei na fobia social em si, eu as vezes penso que se eu tivesse um emprego, poderia sair dessa minha vida de hikikomori. Eu acho que esse termo chega bem perto do que eu sinto, que é um termo japonês para "um comportamento de extremo isolamento doméstico", como está escrito no Wikipedia. Acontece que eu quero que todo o conhecimento que eu tenho ganhe valor em uma sociedade que não valoriza mais o conhecimento, e sim a capacidade do homem produzir em massa. Me pergunto o que é normal nesse mundo de hoje?

Eu não vejo uma resposta para essa pergunta, talvez o jeito que eu sou nunca seja considerado normal, minha personalidade e forma de pensar. A última vez que eu sai de casa... Foi dia 26 de Março, eu fui a um Show, era da banda de Heavy Metal Iron Maiden. Eu passei a semana toda me torturando por ter que ir a esse show, não queria sair de casa. Mas tinha comprado o ingresso e então fui, mas eu não me senti como devia, eu devia estar feliz por ir a um show de uma banda que eu gosto.

Eu me senti como se fosse uma obrigação ir, antes de sair de casa tentei me acalmar pensando que logo eu estaria em casa e teria acabado. E todas as vezes que eu vou para algum lugar é assim, eu passo os dias torcendo para não ser obrigada a sair de casa. Acho que o que mais me incomoda, é as pessoas insistindo que eu vá, eles não aceitam um simples "não quero ir", e só esse mês fui chamada para uma festa a fantasia e para a virada cultural de São Paulo, e mesmo sendo ruim dizer não, é pior ainda ir sem querer.

No show do Iron Maiden, eu passei mal quando vi que tinha muitas pessoas a minha volta. Eu senti falta de ar e quase desmaiei, quando o show acabou foi um tremendo alívio, por que eu me senti ansiosa e nervosa o tempo todo por não estar em casa. Onde eu me sinto mais calma. Eu acho que isso é um exemplo de fobia social, é quando o medo de viver em sociedade te prende em casa, e você passa a evitar qualquer evento social, e qualquer lugar que considere estranho. Não sou especialista nisso, mas ao menos pelo que eu li é bem o que eu sinto. Prefiro ficar em casa.

Desabafo sob efeito do sono

| terça-feira, 5 de abril de 2011 | 2 comentários |
Talvez um dia eu me arrependa de tudo, das coisas que eu escrevi nesse blog, do caminho que percorri até aqui. Admito que eu sou forte, por que nunca desisti, talvez eu seja só uma maluca egocêntrica e egoísta, que adora um pouco de masoquismo, não importa. Eu acho que só sou orgulhosa demais para admitir quando estou realmente mal... O primeiro post do blog foi dia 10 de setembro de 2008, isso quer dizer que o blog vai fazer um ano, um ano que ele fugiu do seu propósito.

Eu havia criado esse blog quando fazia faculdade para divulgar meus textos no geral, poemas, textos engraçados, crônicas e tudo o mais. Ele acabou virando um lugar onde eu uso os meus textos para criar uma arte do que eu sinto. Vi que pessoas se identificaram muito com o que eu escrevi aqui, em muitas ocasiões, resolvi colocar um contador de acesso. Por que? Por que eu queria que algo me animasse mais a escrever aqui, não só textos depressivos, mas que buscassem descrever qualquer tipo de sentimento.

Eu sempre fui muito curiosa e sempre quis compreender a essência do que eu sinto. Sempre achei que dizer apenas, estou com dor, estou triste e estou sozinho, fosse coisas vagas demais, não demonstram exatamente como eu estou me sentindo, não faz com que as pessoas por algum minuto compreendam o que eu sinto. Se eu estiver escrito algo errado, peço que me desculpem, eu acabei de tomar um remédio para dormir tem 30 minutos.

Eu me toquei que esse blog é muito importante para mim, agora sentada enquanto eu escrevo, penso que alguém vai ler, penso que os meus textos podem sim um dia fazer com que as pessoas compreendam além do que as palavras simples possam dizer. E ao mesmo tempo, uso esse blog para me compreender também. Me auto analisar.

Eu escrevi um texto esses dias, Um dia especial, eu fiz esse texto logo depois que fiz um teste para fobia social, o site era bem especifico nas perguntas, se quiser tentar clique aqui. E a minha pontuação foi 124, que seria de fobia social muito grave, eu sabia disso, é o que acontece quando se tranca no quarto e em uma rotina, eu criei uma rotina para mim e qualquer coisa fora dela me assusta.

Sei como funciona o meu dia, eu vou dormir sempre por volta das 4 horas da manhã, no qual tomo um dramin, espero dar sono, então acendo um incenso, leio um pouco, e vou dormir, acordo por volta das 12, e vou correr, é uma das poucas atividades fora de casa que eu faço, e as vezes arrumo desculpa para não ir. Não gosto de falar no telefone, não gosto quando conversam comigo, passo o dia todo no msn com a Nai, vejo House, animes e corrijo algumas fanfictions, ai tomo um remédio e vou dormir sempre a mesma coisa.

O mais triste no momento é que eu não sei onde isso tudo vai parar, e o resultado disso foi aquele textos. Hoje eu fiquei muito triste com um amigo, eu não tenho muitos, alguns deles quase não aparecem no msn, e outros ficam pouco. Qualquer coisa relacionada a perca de um amigo serve para machucar e muito.

Mas isso me fez pensar, eu sempre acabo pensando demais, o que eu mais penso comportamento humano, penso se não devia ter feito psicologia, mas me formei em jornalismo apenas para ficar desempregada. Para ficar presa dentro desse casulo que eu chamo de casa segura. E quanto mais eu penso no se humano, mais consigo me confundir, menos ainda compreendo do todo. E vendo como as pessoas que eu amo, agem, as vezes penso que elas são egoístas, penso no por que eles não se importam, e as vezes penso se eu que não errei. Por me magoar, talvez eu não devesse esperar que aquele ditado fosse verdade, o que diz "só faça aos outros aquilo que você gostaria que fizessem com você." Eu queria escrever mais, tem muita coisa que eu não disse. Mas o sono não deixa.

Boa noite a todos e obrigado a todos que lêem, seguem e comentam no Linha direta do inferno.

Um dia especial

| segunda-feira, 4 de abril de 2011 | 0 comentários |
O tempo, se ela fosse escrever uma história, se ela fosse começar um texto, sobre aquele dia, com certeza seria sobre o tempo. Ela iria querer o tempo perfeito, não seria um dia com sol, mas um dia que normalmente todos acham feio, seria um céu cinzento, um tempo fechado, com aquele tom de uma tempestade se formando. Ela iria querer sentir o vento arrepiar sua pele, enquanto ela descia as ruas de pedra em direção ao portão, cada detalhe revivido em texto.

Iria descrever o rangido suave do portão de tinta vermelha descascada, enferrujado que ela queria ter trocado, mas não o fez, não importava. A sala justa e preta se esticando nas pernas grossas enquanto ela subia os degraus de pedra marrom, trincados e velhos, envoltos a paredes de cimento, fechada e sufocante, um corredor, uma última passagem. O salto preto, alto... De agulha, como se dizem, fazia barulho a ninguém anunciando sua chegada.

A sala de cortinas fechadas estava escura quando ela entrou, mas ela gostava. Ela ajeitou inutilmente as almofadas do sofá, mexeu na toalha feita pela avô na mesa me mármore branco, a tirou e colocou no lugar. Tirou os sapatos ficando descalço, tudo feito com calma, um ritual, ela subiu na mesinha, bateu o calcanhar no vaso de violetas, o derrubou no chão... Sujando-o de terra. 

Derrubou com olhos vagos os mimos da peça, sapinhos de porcelana, vasinhos e frutas de cristal, ouviu o som deles caindo. Andou pelo corredor, para o quarto, viu seu reflexo no espelho, os cabelos loiros e lisos, a aparência bonita, os lábios rubros de batom, os olhos vazios... Os dedos tirando o batom. Não haviam dito que ela era bonita no caminho?

Ela estava em silêncio, não tinha ninguém para falar com ela, nunca houve ninguém... Ela tirou as vestes, entrou na banheira, tocando o corpo para lavá-lo, ninguém nunca sabia o que se passava em sua cabeça. Como ninguém sabe nunca o que está na cabeça do outro. 

Água pinga de seu corpo molhando o piso, ela sorri no espelho, ela sabia que sempre podia sorrir, não importava o seu tempo. Ela não tinha amigos, mesmo achando que era uma boa amiga, ela era interessante, era legal, já tinham falado que ela olhava nos olhos quando falavam com ela, então por que ela não tinha amigos? Ela tinha estudado, cada livro que jogava no chão, enquanto seu corpo nu dançava pela casa no escuro.

Ela era inteligente, tinha feito faculdade e se formado e não tinha um emprego, não tinha nada que era seu, se considerava uma inútil fracassada, que tinha que tomar um comprimido que nem era para dormir, para a dor passar um pouco e ela dormir, como uma boneca que havia sido desativada. Ela sabia recitar os seus livros preferidos de cor.

" Deixai toda esperança, ó vóis que entrais!" Sim, ela entendia Divina comédia, havia lido isso... Havia lido Fausto, que ficara aberto no corredor. "Aí tens! Andando com idiotas até mesmo o Diabo se dá mal." Ah, ela ainda se lembrava dos outros, de Sartre principalmente, ela sabia filosofia, sabia ler e compreender qualquer texto, como nunca tinham compreendido a ela. Ela era inútil e fracassada.

Os dedos tiravam os comprimidos, as unhas de esmalte vermelho corroído, dessa vez não foram um ou dois, ela perdeu a conta, as cartelas vazias no chão, enquanto tomava, com leite e chocolate doce, cada comprimido de sono. Depois ela teria apenas meia hora, pegou um vidro de vodca e foi jogando em cada canto, as vezes bebendo um pouco, e por último um cigarro, ela acendeu um cigarro, deixou que o fogo tomasse as cortinas e sentiu sono antes que elas, as chamas, tocassem o teto.

Onde ela estava? Era o chão? Era o quarto? Não se lembrava, por um um instante, a última cena que lhe apareceu a mente... Antonio Bandeira, no papel de vampiro Armand, no filme "Entrevista com o vampiro", segurando a moça loira nua e dizendo.... "No pain"! Realmente... Agora seria sem dor. Seu nome? O Nome da moça loira que preencheu sua história nos seus últimos pensamentos... Não é importante, como ela não foi importante, ela vai ser só mais uma pessoa que decidiu que era a hora certa e que ninguém mais vai se lembrar. Ninguém pode salvá-la, ninguém pode ouvi-la, ninguém lhe deu um emprego, a vez sentir útil e amada....

E agora ninguém vai chorar por ela. Pois no fim, ela viveu apenas para ela, como cada pessoa vive por si, como cada pessoa chora por si, e cada pessoa conhece a sua dor... O que ela queria? Que as pessoas tivessem um pouco de compaixão e aprendessem,de verdade a ouvir e ajudar, que aprendessem a ouvir, todas as vozes que normalmente se calam e que não pensassem... "Eu também tenho problemas", mas que pensassem "se eu ajudar o outro vou estar me ajudando". Ela queria que de pouco a pouco todo mundo fosse diferente, que fazer sorrir, fosse mais comum que fazer chorar, no final, ela não deixou sua esperança...

Por que... No final ela não fez nada disso que está escrito, ela não bebeu todo aquele remédio... Ela não desistiu por que era fácil demais, ela... Tomou um banho sim, fez sua pequena bagunça para descontar sua raiva, e tomou apenas um comprimido para dormir. Vodca? Ela nem tinha isso no seu armário. Mas ela pegou o telefone, ela ligou para alguém... Uma pessoa que a ouvia, chorou... Falou, e chorou de novo. E quando ela deitou para dormir, com um vazio no peito como se um peso fosse tirado dali, sabia que no dia seguinte começaria tudo de novo. Mas o amanhecer era único.

Ela sairia de novo, procuraria emprego de novo e tentaria mesmo fazer amizades, mesmo... Sendo idiota.

Vamos imaginar que o nome dela é Idiota. Por que? Ela sente e chora, e faz sentir... Mas ela sabe que desistir nunca é uma opção.




Relógio do fim dos dias

| quinta-feira, 31 de março de 2011 | 0 comentários |
Os dedos são armas das palavras da boca, os pensamentos guardam tudo aquilo que não se pode falar. Nenhum ser humano diz o que realmente pensa, e o mundo continua a girar, mesmo que algumas pessoas rastejem de dor tentando alcançar o mundo, ele não para nunca, ninguém ajuda. O interior preenche a casca, é melhor ignorar o que não se vê.

Ela conta as horas no relógio, o relógio da vida, dizendo que ela vai morrer, aproveitando cada hora como se fosse a única, querendo passar alguma mensagem ao mundo, querendo que as pessoas valorizem mais... Cada tic tac do relógio que doí a alma, cada segundo que se passa, como se fosse o último. Ainda sonha, e sente gostos na memória, o paladar se foi como a visão do mundo, ela não suporta mais ouvir.

O pior não é o gosto por ver os mesmos quadros, é a náusea causada pelo convívio social, onde cada pessoa é o centro do próprio mundo e dona de uma verdade absoluta. Ela continua contando no relógio... Cada movimento do ponteiro, cada monotonia de de ação, cada tédio da vida.

Ela conta duas vezes uma hora, conta mais de mil a terceira, como se nada mais importasse, como se ela não ligasse para o descaso dos que dizem que a ama, como se ela não tivessem iguais a ela, como se ninguém mais sofresse. Ela queria ser surda, por que as palavras das outras pessoas a incomodavam, ela só sentia-se sufocar com as palavras dos outros.

Sua voz era calada, sem falas e sem gestos, ela nunca dizia nada, não reclamava de nada, nem quando doía, e nem o quanto doía. Mas ela ainda continuaria contando no relógio... Os dias para a sua morte, sempre... Como todos os dias.